O morro que era mata nativa foi cortado em camadas. Da caixa d’água que seria construída no local, só nasceram as 80 bases — buracos no solo de pouco mais de 12m² por 4m de profundidade, cheios de água em condições ideais para a proliferação de mosquitos. Esse é o cenário do que restou de uma obra parada, em 2015, pelo Governo do Estado que até hoje não tem previsão de retorno no Anil, em Jacarepaguá.
— É um absurdo o que o estado fez com essa área — diz Marcelo Deolindo, síndico do condomínio Mirante da Barra, onde fica o terreno em que seria construída a caixa d’água.
A Secretaria estadual de Obras informou que a construção seria um reservatório para a região e custaria R$ 16,9 milhões. Questionada, a pasta não informou quanto já gastou até agora e afirmou que a empresa contratada para o serviço não estava cumprindo o cronograma e, por isso, os trabalhos foram supensos.
O terreno onde ficaria a caixa d’água é a área reservada do condomínio para a prefeitura construir equipamentos públicos — o que é previsto em lei. Normalmente, são feitas praças, escolas ou postos de saúde. Lá no Mirante da Barra, no entanto, o espaço, de acordo com moradores, foi cedido ao estado, que começou a obra em 2011. Ainda estão no local os resquícios da construção — incluindo uma grua caindo aos pedaços e barracos de madeira.
Para evitar a invasão de estranhos, os moradores do condomínio usaram os tapumes da obra para construir uma barreira e trancaram a passagem com um cadeado. Eles também providenciaram uma guarita com um vigilante e iluminação nova. Cada morador desembolsa R$ 300 por mês para manter o serviço.
— Estamos fazendo o papel que o estado não fez. Eles abandonaram a obra e deixaram o problema com a gente — conta o síndico.
Ainda de acordo com a Secretaria estadual de obras, a Cedae, que pediu a construção do reservatório, “já havia feito limpeza no local antes das última chuvas desta semana” e prometeu que mandará uma equipe técnica ao local para avaliar a situação e aterrar as valas abertas, a fim de evitar a formação de novas poças. “Esse trabalho de prevenção será mantido até que seja concluída uma nova licitação para a continuidade da obra”, afirmou a nota. A solução, no entanto, não contempla a vontade dos moradores.
— Não queremos um reservatório aqui. Tem que replantar a vegetação e recuperar o morro — afirma Marcelo.
Enquanto isso, o morro desmatado não absorve a água da chuva e transforma a superfície de terra em um verdadeiro escorregador para a enchente e a lama chegarem até as casas.
— Essa parte da rua precisava de uma boca de lobo — protesta a moradora Edna Souza.
(Fonte: Extra)